quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Ilusões do Amanhã

 

Por que eu vivo procurando um motivo de viver,

Se a vida às vezes parece de mim esquecer?

Procuro na multidão, mas a multidão não é você.

Eu quero apenas viver, se não for para mim, que seja pra você.

Mas às vezes você parece me ignorar,
Sem nem ao menos me olhar,
Me machucando pra valer.

Atrás dos meus sonhos eu vou correr...
Eu vou me achar, pra mais tarde em você me perder.

Se a vida dá presente pra cada um, o meu, cadê?

Será que esse mundo tem jeito?
Esse mundo cheio de preconceito.

Quando estou só, preso na minha solidão,
Juntando pedaços de mim que caíam ao chão,
Juro que às vezes nem ao menos sei, quem sou.

Talvez eu seja um tolo, que acredita num sonho.

Na procura de te esquecer, eu fiz brotar a flor.

Para carregar junto ao peito,
E crer que esse mundo ainda tem jeito.

E como príncipe sonhador...
Sou um tolo que acredita, ainda, no amor.

 

(Alexandre Lemos – Aluno da APAE)

Risoflora

 

Eu sou um caranguejo e estou de andada
Só por sua causa, só por você, só por você
E quando estou contigo eu quero gostar
E quando estou um pouco mais junto eu quero te amar
E aí te deixar de lado como a flor que eu tinha na mão
E a que esqueci na calçada só por esquecer
Apenas porque você não sabe voltar pra mim
Oh Risoflora!
Vou ficar de andada até te achar
Prometo meu amor vou me regenerar
Oh Risoflora!
Não vou dar mais bobeira dentro de um caritó
Oh Risoflora, não me deixe só
Eu sou um caranguejo e quero gostar
Enquanto estou um pouco mais junto eu quero te amar
E acho que você não sabe o que é isso não
E se sabe pelo menos você pode fingir
E em vez de cair em suas mão preferia os seus braços
E em meus braços te levarei como uma flor
Pra minha maloca na beira do rio, meu amor!
Oh Risoflora!
Vou ficar de andada até te achar
Prometo meu amor vou me regenerar
Oh Risoflora!
Não vou dar mais bobeira dentro de um caritó
Oh Risoflora, não me deixe só.

 

 

(Francisco de Assis França vulgo Chico Science)

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Coração Partido

 

Broken

Todo coração tem um desejo
De um novo tempo, para novos recomeços
Livre de qualquer culpa e preconceitos
Eu sei que preciso
Com toda força e desejo
De um gesto puro
Que me livre dos rumos inseguros
Dos quais andei com receio
Para que assim
Ela não tenha mais medo
De se entregar
Ao meu amor verdadeiro
Então, talvez eu diga sem medo
Que do amor fui refeito
E por entre janelas
Não há rosa mais bela
Do que aquela
Que em meu jardim
Fui semear

 

 

(dos Santos)

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Amar

 

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o cru,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave
de rapina.Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.

(Carlos Drummond de Andrade)

Um Dia Acordarás

 

Um dia acordarás num quarto novo
sem saber como foste para lá
e as vestes que acharás ao pé do leito
de tão estranhas te farão pasmar,
a janela abrirás, devagarinho:
fará nevoeiro e tu nada verás...

Hás de tocar, a medo, a campainha
e, silenciosa, a porta se abrirá.

E um ser, que nunca viste, em um sorriso
triste, te abraçará com seu maior carinho
e há de dizer-te para teu assombro:

- Não te assustes de mim, que sofro há tanto!
Quero chorar - apenas - no teu ombro
e devorar teus olhos meu amor...

(Mário Quintana)

Ninguém Me Venha Dar Vida


Ninguém venha me dar vida,
que estou morrendo de amor,
que estou feliz de morrer,
que não tenho mal nem dor,
que estou de sonho ferido,
que não me quero curar,
que estou deixando de ser,
e não quero me encontrar,
que estou dentro de um navio,
que sei que vai naufragar,
já não falo e ainda sorrio,
porque está perto de mim
o dono verde do mar
que busquei desde o começo,
e estava apenas no fim.

Corações, por que chorais?
Preparai meu arremesso
para as algas e os corais.

Fim ditoso, hora feliz:
guardai meu amor sem preço,
que só quis quem não me quis.



(Cecília Meireles)