segunda-feira, 22 de março de 2010

O Amor Por Entre O Verde

Não é sem frequência que, à tarde, chegando à janela, eu vejo um casalzinho de brotos que vem namorar sobre a pequena ponte de balaustrada branca que há no parque. Ela é uma menina de uns treze anos, o corpo elástico metido num blue jeans e num suéter folgadão, os cabelos puxados para trás num rabinho-de-cavalo que está sempre a balançar para todos os lados; ele, um garoto de, no máximo, dezesseis, esguio, com pastas de cabelo a lhe tombar sobre a testa e um ar de quem descobriu a fórmula da vida. Uma coisa eu lhes asseguro: eles são lindos, e ficam montados, um de frente ao outro, no corrimão da colunata, os joelhos a se tocarem, os rostos a se buscarem a todo momento para pequenos segredos, pequenos carinhos, pequenos beijos. São, na sua extrema juventude, a coisa mais antiga que há no parque, incluindo velhas árvores que por ali espaçam sua verde sombra; e as momices e brincadeiras que se fazem dariam para escrever todo um tratado sobre a arqueologia do amor, pois têm uma tal ancestralidade que nunca se há de saber a quantos milênios remontam.

Eu os observo por um minuto apenas para não perturbar-lhes os jogos de mão e misteriosos brinquedos mímicos com que se entretêm, pois suspeito de que sabem de tudo o que se passam à sua volta. Às vezes, para descansar da posição, encaixam-se os pescoços e repousam os rostos um sobre o ombro do outro, como dois cavalinhos carinhosos, e eu vejo então os olhos da menina percorrerem vagarosamente as coisas em torno, numa aceitação dos homens, das coisas e da natureza, enquanto os do rapaz mantêm-se fixos, como a perscrutar desígnios. Depois voltam à posição inicial e se olham nos olhos, e ela afasta com a mão os cabelos de sobre a fronte do namorado, para vê-lo melhor, e sente-se que eles se amam e dão suspiros de cortar o coração. De repente o menino parte para uma brutalidade qualquer, torce-lhe o pulso até que ela dizer-lhe o que ele quer ouvir, e ela agarra-o pelos cabelos, e termina tudo, quando não há passantes, num longo e meticuloso beijo.

Que será, pergunto-me eu em vão, dessas duas crianças que tão cedo começam a praticar os ritos do amor? Prosseguirão se amando, ou de súbito, na sua jovem incontinência, procurarão o contato de outras bocas, de outras mãos, de outros ombros? Quem sabe se amanhã, quando eu chegar à janela, não verei um rapazinho moreno em lugar do louro ou uma menina com a cabeleira solta em lugar dessa com os cabelos presos?

E se prosseguirem se amando, pergunto-me novamente em vão, será que um dia se casarão e serão felizes? Quando, satisfeita a sua jovem sexualidade, se olharem nos olhos, será que correrão um para o outro e se darão um grande abraço de ternura? Ou será que se desviarão o olhar, para pensar cada um consigo mesmo que ele não era exatamente aquilo que ela pensava e ela era menos bonita ou inteligente do que ele a tinha imaginado?

É um tal milagre encontrar, nesse infinito labirinto de desenganos amorosos, o ser verdadeiramente amado… Esqueço o casalzinho no parque para perder-me por um momento na observação triste, mas fria, desse estranho baile de desencontros, em que frequentemente aquela que devia ser daquele acaba por bailar com outro porque o esperado nunca chega; e este, no entanto, passou por ela sem que ela o soubesse, suas mãos sem querer se tocaram, eles olharam-se nos olhos por um instante e não se reconheceram.

E é então que esqueço de tudo e vou olhar nos olhos de minha bem-amada como se nunca a tivesse visto antes. É ela, Deus do céu, é ela! Como a encontrei, não sei. Como chegou até aqui, não vi. Mas é ela, eu sei que é ela porque há um rastro de luz quando ela passa; e quando ela me abre os braços eu me crucifico neles banhado em lágrimas de ternura; e sei que mataria friamente quem quer que lhe causasse dano; e gostaria que morrêssemos juntos e fôssemos enterrados de mãos dadas, e nossos olhos indecomponíveis ficassem para sempre abertos mirando muito além das estrelas.



(V. de M. – Para se Viver Um Grande Amor, Companhia das Letras, 1991, página 47)

 

sábado, 13 de março de 2010

Cadeados Do Amor

Há uns 30 anos, começou na Hungria uma febre que hoje se espalhou pelo mundo: Cadeados do Amor. Os casais trancavam cadeados em grades pra simbolizar o amor e compromisso eterno e, apesar de achar que essa metáfora pode ser meio pesadona, faz um mega sentido. Além disso, em tempos de relacionamento fast-food, é bom saber que tem gente que ainda se compromete de verdade…

Alemanha

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China

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Coréia

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Estados Unidos

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França

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Guam

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Itália

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Japão

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Rússia

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Ucrânia

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quarta-feira, 10 de março de 2010

Se Se Morre De Amor!

 

Sentir, sem que se veja, a quem se adora,

Compreender, sem lhe ouvir, seus pensamentos,

Segui-lo, sem poder fitar seus olhos,

Amá-lo, sem ousar dizer que amamos, (...)

Arder por afogá-lo em mil abraços:

Isso é amor, e desse amor se morre!

(Gonçalves Dias)

terça-feira, 2 de março de 2010

Manifesto de um Ácaro Contra o Amor

     O amor é uma merda! Me dá até alergia respiratória só de pensar. Não, querido leitor, eu não sofri uma decepção amorosa, não sou mal-resolvido nem estou com dor de cotovelo. Até porque nem cotovelo eu tenho. Eu sou um ácaro, pelo amor de Deus!

     Esse meu ódio, essa minha repugnância, esse meu nojo pelo amor nada mais são do que resultado de pura reflexão intelectual. Uma questão pragmática, eu diria. Quase dialética. Na verdade, chega a ser uma questão de sobrevivência. Ou nós, ácaros, acabamos com o amor entre as pessoas, ou o amor vai acabar com a gente. Simples assim.

     Esta excrescência que é o amor, mesmo nas mais simples e singelas demonstrações, já é para nós um inferno em vida. Começando pelo cafuné, por exemplo. Aparentemente tão inofensivo e despretensioso, não é? Mas veja pelo nosso ângulo. Estamos lá, desfrutando de um resto de couro cabeludo, uma gordurinha capilar ou até mesmo uma saborosíssima caspa. Quando de repente, sem mais aquela, aparecem unhas e dedos gigantes que ficam jogando a gente de um lado para o outro sem parar. Imagine-se num restaurante que não deixa você ficar sentado em sua mesa. Fica jogando você de um lado para o outro, por horas a fio. É in-su-por-tá-vel. Faça-me o favor! Será que dá pra deixar a gente comer sossegado?

     Só de ficar de mãozinhas dadas, os humanos já acabam com a nossa alegria. Na hora que as mãos se tocam e se apertam, expulsam o oxigênio entre elas e nós ficamos sufocados. Por um tempo dá até um barato ficar sem oxigênio, mas se o amor é grande e as mãos ficam muito tempo unidas, bye-bye, so long, farewell.

     Um pouco mais grave é o abraço. E quanto mais apertado e demorado, mais perigoso para nós, os ácaros. Não sei o que é pior: ficar na frente sendo esmagado vivo ou ficar nas costas onde uma mão enorme te esfrega pra cima e pra baixo por uma eternidade. Isso sim que é dor de amor.

     A partir daí a coisa começa a ficar extremamente complicada. O beijo, ah que raiva que eu tenho do beijo. Um desentupidor de pia gigante que suga a gente sem a mínima cerimônia. Fora o barulho, que é ensurdecedor. Imagine uma boca gigante em seu ouvido dando um beijinho estalado. Eu mesmo já não ouço bem de um ouvido por conta de beijos calientes dos quais participei sem pedir. Aliás, você vivem dizendo “eu queria ser uma mosquinha para saber o que está acontecendo lá”... pois é. Entre nós, os ácaros, costumamos dizer que gostaríamos de ser uma mosquinha para NÃO saber o que está acontecendo. Queremos distância da paixão. Dá pra entender ou não?

     Mais a pior de todas as manifestações de amor, sem dúvida é o sexo. Não existe nada mais revoltante que amor com sexo. É uma carnificina impiedosa. Pega a gente de tudo quanto é lado. Se a gente tá na cabeça de um, vem uma mão e esfrega na gente. Se a gente está no travesseiro ou no lençol, é violência e agressividade. Raspa daqui, joga dali, esfrega acolá, aquele vai-e-vem insuportável... Um fica chupando e lambendo o outro (argh!), o que embrulha nosso estômago de um jeito... você já tomou um banho de saliva? Pior, já se viu em meio a uma enchente de saliva? Não dá nem pra explicar a sensação. Tietê é fichinha.

     A bunda da mulher, então, é um lugar perigosíssimo para se freqüentar. Os tapas que despencam por lá matam milhões e milhões de companheiros em questão de segundos. Um verdadeiro massacre.

     Mas o pior lugar mesmo para ficar são os pêlos pubianos, meu Deus do céu! O que aquilo ali esfrega é uma ignorância. A fricção naquela região faz a temperatura subir de forma estratosférica. Que aquecimento global, o quê? Experimenta estar nas partes baixas de um homem ou de uma mulher durante o intercurso. O ácaro que não morre lá mesmo fica inválido para sempre. A gente torce pro sujeito ter impotência, pra mulher estar com dor de cabeça ou, no mínimo que o cara tenha ejaculação precoce. Sabendo disso você pode imaginar porque a gente não pode nem ouvir falar em uma tal de pílula azul...

     É, não há mesmo um lugar onde um ácaro de respeito possa ficar em segurança, com seus milhões de amigos e familiares, curtindo uma pelinha morta numa boa. Enquanto houver sexo, seremos sempre atingidos, lamentavelmente.

     Olhe, e não pense você que os ácaros têm algum tipo de restrição ao sexo. Conceitualmente, eu quero dizer. Não, os ácaros estão longe de serem moralistas. É claro que existem exceções. Existe uma espécie de ácaros que não se reproduz com sexo. São apenas fêmeas botando ovos. Mas aquelas pobres meninas são feministas recalcadas que acham que deram certo, mas que não têm a menor idéia do que é o orgasmo, tadinhas... Ácaro, como todo mundo, adora sexo. Mas tem de ser sexo seguro, ou seja, a distância. Esse negócio de sexo virtual, pela internet para nós foi um verdadeiro achado. Para você ter uma idéia existem membros em nossa espécie que atingem a maturidade sexual em apenas dois dias. Legal, né? O único problema é que a gente tem uma média de duas relações sexuais na vida, o que pra você pode ser pouco, mas lembre-se que vivemos apenas 2 meses. Ácaro gosta tanto de sexo que costumamos dizer que podemos ser feios, mas comemos todo mundo. É, a gente adora tirar uma casquinha de vocês.

     O amor entre os de sua espécie é a perdição para os da nossa. É por isso que eu digo: abaixo o amor! Vamos dar um basta neste desperdício de energia sem sentido! O amor não serve pra nada, só faz todo mundo sofrer. O amor é nosso carrasco, nosso facínora, nosso Hitler. Milhões de ácaros indefesos tombam a cada mínima manifestação afetiva de nossos cruéis hospedeiros. É preciso acabar com essa pouca-vergonha. Só porque a gente é microscópico não quer dizer que não tenhamos direito à vida.

     Mas ainda há esperança. Até porque, como vocês bem sabem, o amor não dura para sempre, se Deus quiser. É, meus amigos, a conclusão a que se chega é que vocês são bem gostosos, mas muito perigosos. Se continuar assim, vamos acabar virando todos vegetarianos.

 

(Henrique Szklo – é escritor e tem alergia a ácaros)

(Re) Formulando…

 

Eu tentei ser engraçado em alguns posts, mas eu estava com a minha “imbecialidade” em alta no dia em questão e postei uma babaquices internéticas (graças a Deus apaguei a tempo!)… Eram coisas bizarras, que só funcionam em site/blog de humor idiota. A minha proposta era trazer um pouco de humor inteligente para esse humilde blog e que não desviasse o caminho da proposta original do blog: falar de Amor.

Bom, humor inteligente é difícil de ser encontrado, mas encontrei um texto bem engraçado e muitíssimo diferente dos textos que havia postado.

Mas não se preocupem, a parte séria e romântica ainda permanece.


Espero não desapontar meus (quase três) leitores.

 

Para O Seu Namoro (Ou O Que For) Dar Certo

Não existe uma fórmula exata, é claro. Mas observando atentamente meus amigos e com as cabeçadas que levei durante a vida, anotei alguns procedimentos básicos para melhorar seu relacionamento, evitar brigas inúteis e o terror do desgaste. Existem mais alguns itens para enriquecê-lo de sabedoria, mas infelizmente não cabe no espaço disponível aqui. Então selecionei algumas dicas que estão esmiuçadas nos livros para você e nas próximas semanas vou discutindo alguns itens mais detalhadamente no Blônicas.
Não telefone todos os dias para seu amor, muito menos tenha isso como obrigação. Após alguns meses de namoro o assunto acaba, dando lugar à brigas irracionais. Não marque horário específico para ligações também. Se um dia você não estiver em casa, ou estiver no banheiro na hora marcada, estará perdido. Não a costume a dar "beijinho de boa noite". Muitas vezes ela fará isso só para ver se você não saiu após a última ligação da noite. Cuidado! Se você tiver que diminuir o TNT (Tempo de Namoro ao Telefone), faça-o desde o início.

Tenha e mantenha seus amigos, custe o que custar. Até se custar seu namoro vale a pena (por mais que você esteja cego agora). Não paparique ou despreze demais. Não use sapatinho da maga patalógica. Todo excesso atrapalha. Ame, mas permita que a pessoa ame. Faça, mas nunca pelos dois. Se tudo o que você fizer for pelos dois, qual a necessidade da outra pessoa?

Seja pontual, mas não metódico (nerd). Saia da rotina. Não traia (por mais tentador que seja). Mantenha a forma física, mas sem fanatismo. Não se habituem a se xingar mutuamente. Evite isso desde a primeira vez acidental. Não ache que sua profissão é mais ou menos importante que a dela(e). Dê atenção à família dela, sem atitudes forçadas ou se envolvendo demais. Não o(a) corrija na frente de outras pessoas. Seja alegre e divertido(a) apesar das dificuldades da vida. Não ache que o que aconteceu aos outros não pode acontecer a você.

Valorize pequenas atitudes de afeto. Não fique noiva(o) durante muito tempo. Faça sua viagem de lua-de-mel depois, e não antes do casamento. Não aperte espinha da cara de seu parceiro. Evite falar ou ter contato com ex-namorados(as). Não deixe seu namorado ou quem quer que seja escolher suas roupas. Não guarde rancor. Discuta os problemas o mais rápido possível. Converse. Saiba ouvir, e escutar principalmente.Vejo muitos casais por aí sentados na mesa de um bar, ambos olhando para o infinito. Somente conversam quando chegam as batatinhas fritas (e ainda conversam sobre as batatas).

Seja humilde. Saiba separar quem é você e quem é ela(e). Distribua seu espaço e organize seu tempo durante o dia. Não seja um grude. Não seja extremamente ciumento ou indiferente. Não provoque ciúme propositadamente. Tente ser espontâneo e original. Não compre presentes fora de época, ou com cheque pré-datado ou cartão. Progrida intelectualmente sempre que puder. Não se acomode. Conquiste e reconquiste seu amor todos os dias.

Se conseguirmos cumprir apenas dez destes itens, já seremos mais felizes. Pena que sempre esquecemos da maioria...

 

(Evandro Daolio - autor da série "Ria da minha vida" e você pode conhecer mais sobre ele e seus livros em seu site.)

segunda-feira, 1 de março de 2010

Diálogo do Amor

 

Assim falou, um dia, o Amante à sua Amada:

"- Não quer você seguir, comigo, a mesma estrada?

"E Ela disse: "- E se for uma grande subida
para enfrentarmos, os dois, durante toda a vida?"

"Não temas a subida" - então diz-lhe o Amante,"pois o
amor nos transporta em sua asa possante."

Mas a Amada persiste: "E se houver muito espinho e muita
pedra aguda, ao longo do caminho?"

E ele responde: "Espinho e pedra viram flor
quando existe no peito um grande, imenso Amor."

"E se a noite chegar, deixando tudo escuro",
- diz ela - "como achar a trilha do futuro?"

"Sossegue!... A minha vida, unida sempre à tua,será
brilho de sol, será clarão de lua!"

Mas ela insiste: "E o frio?... a neve em vez de orvalho
e a gente a caminhar sem agasalho?"

"Querida, o nosso Amor" - diz ele - "é chama ardente que
sempre há de aquecer a existência da gente!"

"E se chegar um dia a fome, em mau momento e a vida nos
negar o trigo do sustento?"

"Cavaremos a terra os dois juntos, então,
para plantar o Amor que é trigo, fruto e pão!"

"E se formos, depois, por um grande deserto,
uma região sem água alguma longe ou perto?"

Mas ele dizia: "Querida, a vida de quem ama,
é fonte de onde a água, em ondas se derrama"

"E se o Amor acabar?..." a Amada então hesita..."que nos
vai suceder em tamanha desdita?"

"Querida, o Amor não morre, o Amor é puro e terno,porque
o Amor é Deus e o grande Deus é eterno!

Não, o Amor não acaba..." o amante respondeu..."se todo Amor for grande assim como este meu.
Ele só acabará quando o sol apagar e não houver mais
água alguma em todo o mar!"
E ele estendeu a mão, assim como proposta
e ela lhe deu a sua, assim como resposta...

E sorrindo, o bom Deus, que tudo estava a olhar, pôs mais
chamas no sol e mais águas no mar...

"Lembre-se de que a primeira pessoa que você precisa
acreditar no que diz é você mesmo."

(Autor desconhecido)