segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Amor

 

Amemos! Quero de amor
Viver no teu coração!
Sofrer e amar essa dor
Que desmaia de paixão!
Na tu’alma, em teus encantos
E na tua palidez
E nos teus ardentes prantos
Suspirar de languidez!
Quero em teus lábio beber
Os teus amores do céu,
Quero em teu seio morrer
No enlevo do seio teu!
Quero viver d’esperança,
Quero tremer e sentir!
Na tua cheirosa trança
Quero sonhar e dormir!
Vem, anjo, minha donzela,
Minh’alma, meu coração!
Que noite, que noite bela!
Como é doce a viração!
E entre os suspiros do vento
Da noite ao mole frescor,
Quero viver um momento,
Morrer contigo de amor!

 

(Álvares de Azevedo)

A Dança

 

Não te amo como se fosse rosa de sal, topázio
ou flecha de cravos que propagam o fogo:
te amo secretamente, entre a sombra e a alma.

Te amo como a planta que não floresce e leva
dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
e graças a teu amor vive escuro em meu corpo
o apertado aroma que ascender da terra.

Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
te amo diretamente sem problemas nem orgulho:
assim te amo porque não sei amar de outra maneira,

Se não assim deste modo em que não sou nem és
tão perto que a tua mão sobre meu peito é minha
tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.

 

(Pablo Neruda)

Amor em Paz

 

Eu amei
Eu amei, ai de mim, muito mais
Do que devia amar
E chorei
Ao sentir que iria sofrer
E me desesperar
Foi então
Que da minha infinita tristeza
Aconteceu você
Encontrei em você a razão de viver
E de amar em paz
E não sofrer mais
Nunca mais
Porque o amor é a coisa mais triste
Quando se desfaz

 

 

(Vinícius de Moraes)

domingo, 28 de novembro de 2010

Descubra o Amor

 

Pegue um sorriso
e doe a quem jamais o teve…
Pegue um raio de sol
e faça-o voar lá onde reina a noite…
Pegue uma lágrima
e ponha no rosto de quem jamais chorou…
Pegue a coragem
e ponha-a no ânimo de quem jamais sabe lutar…
Descubra a vida
e narre-a a quem não sabe entendê-la…
Pegue a esperança
e viva na sua luz…
Pegue a bondade
e doe-a a quem não sabe doar…
Descubra o amor
e faça-o conhecer o mundo…

(Mahatma Gandhi)

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Sobre o Amor, o Entendimento e a Distância entre os Afetos

 

 

Eu olho para o mundo e não entendo 
Por que, hoje, o amor é um grande erro?

Na sua vida eu pertenço à sua cama
Esquento seus pés e o seu desejo
E meu grande anseio é apenas ser sua
O comprometimento com a sua humanidade
Zelar pela sua integridade e
Inserido no meu mundo, pegar em sua mão
E alcançarmos um novo mundo nosso
Preenchido pelas nossas existências superiores
E, assim, sermos felizes como possível

E quando eu choro e te imploro
Algumas horas do seu tempo
É para amenizar a distância
Muito maior que a Dutra
E aquela entre São Paulo e São José dos Campos
Sei que a maior mágoa
É a separação de nossos ideais

Enquanto meu amor é entrega
Seu amor é blasé
Meu amor é você e o resto do mundo
O seu amor é você com o resto do mundo e eu
Nossos fatores não dão o mesmo resultado

E, eu fico assim, aqui, 
Esperando você voltar
O seu tempo do amor
E de tudo o mais

E algo dentro de mim se perde
Se esvai, e não sei bem o que isso seria
Além de um vazio e uma dor
Desesperança

Eu não te exijo 24 horas.
Eu apenas te amo 
E gostaria que você fizesse planos
Como eu os faço com você
Que seu regozijo repousasse junto de mim
Em qualquer lugar do mundo
Apenas por ser o momento da sua vida

Eu quero um amor tranquilo
Sem jogos e mentiras
Todo de honestidade 
Eu sou toda de verdades
E não posso mais viver assim, na insegurança
De suas emoções

Você deve decidir se quer ficar comigo
Um ano já passamos dividindo nossas intimidades
Se você acredita que não sou a mulher
Para a sua vida
Logo me diga
Para que eu não me envolva mais e sofra

Se você é algo bom e inocente
Entende bem esse meu pedido
E será dotado de coragem
Para seguirmos separadamente nossos destinos

O que já não posso mais
É assim viver
Perdida no seu tempo
Nos seus desejos dispersos
Na falta de foco e direção de seus compromissos

Eu sei o que eu quero
Agora é a sua vez

(Bianca Rosolem)

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

NEOQAV

 

    Meus avós já estavam casados há mais de cinquenta  anos e continuavam jogando um jogo que haviam iniciado quando começaram a namorar.
    A regra do jogo era que um tinha que escrever a palavra "NEOQAV" num lugar inesperado para o outro encontrar e assim quem  a encontrasse deveria escrevê-la em outro lugar e assim sucessivamente. Eles se revezavam deixando "NEOQAV" escrita por toda a casa, e assim que um a encontrava era sua vez de escondê-la em outro local para o outro achar.
    Eles escreviam "NEOQAV" com os dedos no açúcar dentro do açucareiro ou no pote de farinha para que o próximo que fosse cozinhar a achasse. Escreviam na janela embaçada pelo sereno que dava para o pátio onde minha avó nos dava pudim que ela fazia com tanto carinho.  "NEOQAV" era escrita no vapor deixado no espelho depois de um  banho quente, onde a palavra iria reaparecer depois do próximo banho.
    Uma vez, minha avó até desenrolou um rolo inteiro de papel higiênico para deixar "NEOQAV" na  última folha e enrolou tudo de novo. Não  havia limites para onde "NEOQAV" pudesse surgir. Pedacinhos  de papel com "NEOQAV" rabiscado apareciam grudados no volante do  carro que eles dividiam. Os bilhetes eram enfiados dentro dos sapatos e  deixados debaixo dos travesseiros.
   "NEOQAV" era escrita com os  dedos na poeira sobre as prateleiras e nas cinzas da lareira. Esta  misteriosa palavra tanto fazia parte da casa de meus avós quanto da mobília. Levou bastante tempo para eu passar a entender e gostar completamente deste jogo que eles jogavam. Meu ceticismo nunca me deixou acreditar em um único e verdadeiro amor, que possa ser realmente puro e duradouro. Porém, eu nunca duvidei do amor entre meus avós.
    Este amor era profundo. Era mais do que um jogo de diversão, era um modo de vida. Seu relacionamento era baseado em devoção e uma afeição apaixonada, igual  as quais nem todo mundo tem a sorte de experimentar. O vovô e a vovó ficavam de mãos dadas sempre que podiam.
    Roubavam beijos um do outro sempre que se batiam um contra outro naquela cozinha  tão pequena. Eles conseguiam terminar a frase incompleta do outro e todo dia resolviam juntos as palavras cruzadas do jornal. Minha avó cochichava para mim dizendo o quanto meu avô era bonito, como ele havia se tornado um velho bonito e charmoso.
    Ela se gabava de dizer que sabia como pegar os namorados mais bonitos.
    Antes de cada refeição eles se reverenciavam e davam graças a Deus e bênçãos aos presentes por sermos uma  família maravilhosa, para continuarmos sempre unidos e com boa  sorte. Mas uma nuvem escura surgiu na vida de meus avós: minha avó  tinha câncer de mama.
    A doença tinha aparecido dez  anos antes. 
    Como sempre, vovô estava com ela a cada momento. Ele a confortava no quarto amarelo deles, que ele havia pintado dessa cor para que ela ficasse sempre rodeada da luz do sol, mesmo quando ela não tivesse forças para sair.
    O câncer agora estava de novo atacando seu corpo. Com a ajuda de uma bengala e a mão firme do meu avô, eles iam à igreja toda manhã. E minha avó foi ficando cada vez mais fraca, até que, finalmente, ela não mais podia sair de casa.
    Por algum tempo, meu avô resolveu ir à igreja  sozinho, rezando a Deus para zelar por sua esposa. Então, o que todos  nós temíamos aconteceu. Vovó partiu. "NEOQAV" foi gravada em amarelo nas fitas cor-de-rosa dos buquês de flores do funeral da vovó. Quando os amigos começaram a ir embora, minhas tias, tios, primos e outras pessoas da família se juntaram e ficaram ao redor da vovó pela última vez.
    Vovô ficou bem junto do caixão da vovó e, num suspiro bem profundo, começou a  cantar para ela. Através de suas lágrimas e pesar, a música surgiu como uma canção de ninar que vinha bem de dentro de seu ser.
    Me sentindo muito triste, nunca vou me esquecer daquele momento. 
    Porque eu sabia que mesmo sem ainda poder entender completamente a profundeza daquele amor, eu tinha tido o privilégio de testemunhar a beleza sem igual que  aquilo representava.

Aposto que a esta altura você deve estar se  perguntando: "Mas o que "NEOQAV" significa?". Não está?

NEOQAV = Nunca Esqueça O Quanto Eu Amo Você.

(autor desconhecido)

Amor e Luz



Radical assim, sim. Você gosta do que você é. Você admira quem tem as
qualidades que você também acha que tem ou gostaria de ter.

Você gosta do que lhe diz respeito, gosta das pessoas que têm seu sangue,
das que você elege, das que não ameaçam você.

Você e o mundo são assim. Todos os seres humanos são assim, racionalmente.
Na TV, concordamos com quem diz o que nós pensamos. No jornal, damos
crédito a quem escreve o que nos representa. No fundo, nós só gostamos de
nós mesmos.

Leio uma crítica do Ricardo Feltrin e adoro-a. Claro, ela reflete o que eu também
penso, tenho que gostar. Dela, a crítica, dele, o crítico.


Cada ser humano se sente o centro do mundo, vê tudo sob sua ótica e só ama a
si mesmo. Até sua falta de auto-estima prova que seu interesse é só um, ele
próprio. Egoístas. Todos somos.

E aí vem o amor.

E dá uma rasteira no nosso ego imbecil.

O amor.

Que subitamente faz com que a gente ame alguma coisa, alguém, que é um
não-eu. Não é a mamãe, nem o papai, vovó, titio, filhinho. É outra pessoa.
De outra família, outro lugar, que tem outra história. Muitas vezes, é até de
outro sexo.

E  amamos esta pessoa sem saber como ou por quê.

Porque o amor não é verbo que a gente conjuga na primeira pessoa de forma
racional, amor é verbo que faz da gente objeto.

O amor acontece.

E só quem aprende, entende, exercita o amor sabe que sua potência, sua
imensidão.

Quem nunca amou, pode achar que sabe mas não sabe.

Amor é único, não parece com nada.

O que mais se parece com amor deve ser chocolate. Ou queijo. Quando a
gente tem vontade de comer chocolate não serve mais nada. Só chocolate mesmo.
Queijo é assim também. É uma coisa em si.

No fundo, todo mundo que vive em desamor, de forma pontual ou em longas doses
ao longo dos anos, vai ficando amargo. Depois azedo. Depois, podre.

As pessoas ruins, ácidas, infelizes, que não sentem prazer, vivem anestesiadas.
São sempre as mais ranzinzas, as mais chatas, as que alfinetam, as que ferroam
sem parar.

Não são rompantes normais da ira, é um azedume que contamina tudo, uma
humidade triste de quem vive sem luz, onde o bolor diário da inveja cresce.

É triste, isto. Gente que vive embolorada por dentro, por falta de amor e sol.

Lamento por todas elas.

Porque se elas se lançassem ao amor, mudariam num instante.







(Rosana Hermann)

Amar Bonito

Talvez seja tão simples, tolo e natural que você nunca tenha parado para pensar:

Aprendam a fazer bonito seu amor.

Ou fazer o seu amor ser ou ficar bonito.

Aprenda, apenas, a tão difícil arte de amar bonito.

Gostar é tão fácil que ninguém aceita aprender...

Tenho visto muito amor por aí.

Amores mesmo: bravios, gigantescos, descomunais, profundos, sinceros, cheios de entrega, doação e dádiva.

Mas esbarram na dificuldade de se tornar bonitos.

Apenas isso: bonitos, belos ou embelezados, tratados com carinho, cuidado e atenção.

Amores levados com arte e ternura de mãos jardineiras.

Aí, esses amores que são verdadeiros, eternos e descomunais, de repente se percebem ameaçados e tão somente porque não sabem ser bonitos: cobram, exigem, rotinizam,descuidam, reclamam, deixam de compreender, necessitam mais do que oferecem, precisam mais do que atendem, enchem-se de razões.
Sim, de razões.

Ter razão é o maior perigo no amor.

Quem tem razão sempre se sente no direito (e o tem) de reivindicar, de exigir justiça, equidade, equiparação, sem atinar que o que está sem razão talvez passe por um momento de sua vida no qual não possa ter razão.

Nem queira!!!

Ter razão é um perigo: em geral, enfeia um amor, pois é invocado com justiça, mas na hora errada.

Amar bonito é saber a hora de ter razão.

Ponha a mão na consciência. Você tem certeza de que está fazendo o seu amor bonito?

De que está tirando do gesto, da ação, da reação, do olhar, da saudade, da alegria do encontro, da dor do desencontro a maior beleza possível?

Talvez não.

Cheio ou cheia de razões, você separa do amor apenas aquilo que é exigido por suas partes necessitadas, quando talvez dele devesse pouco esperar, para valorizar melhor tudo de bom que de vez em quando ele pode trazer.

Quem espera mais do que isso sofre e, sofrendo, deixa de amar bonito.

Sofrendo, deixa de ser alegre, igual, irmão, criança.

E sem soltar a criança, nenhum amor é bonito.

Não tema o romantismo. Derrube as cercas da opinião alheia.

Faça coroas de margaridas e enfeite a cabeça de quem você ama.

Saia cantando e olhe alegre.

Recomenda-se: encabulamentos, ser pego em flagrante gostando, não se cansar de olhar e olhar, não atrapalhar a convivência com teorizações, adiar sempre se possível com beijos 'aquela conversa importante que precisamos ter', arquivar, se possível, as reclamações pela pouca atenção recebida.

Para quem ama, toda atenção é sempre pouca.

Quem ama feio não sabe que pouca atenção pode ser toda a atenção possível.

Quem ama bonito não gasta tempo dessa atenção cobrando a que deixou de ter.

Não teorize sobre o amor (deixe isso para nós, pobres escritores que vemos a vida como criança de nariz encostado na vitrine cheia de brinquedos dos nossos sonhos); não teorize sobre o amor, ame.

Siga o destino dos sentimentos aqui e agora.

Não tenha medo exatamente de tudo o que você teme, como: a sinceridade, abrir o coração, contar a verdade do tamanho do amor que sente; não dar certo e depois vir a sofrer (sofrerá de qualquer jeito).

Jogue pro alto todas as jogadas, estratagemas, golpes, espertezas, atitudes sabiamente eficazes (não é sábio ser sabido): seja apenas você no auge de sua emoção e carência, exatamente aquele você que a vida impede de ser.

Seja você cantando desafinado, mas todas as manhãs.

Falando besteiras, mas criando sempre.

Gaguejando flores.

Sentindo o coração bater como no tempo do Natal infantil.

Revivendo os caminhos que intuiu em criança.

Sem medo de dizer eu quero, eu estou com vontade.

Deixe o seu amor ser a mais verdadeira expressão de tudo que você é.

Se o amor existe, seu conteúdo já é manifesto.

Não se preocupe mais com ele e suas definições.

Cuide agora da forma do amor:

Cuide da voz.

Cuide da fala.

Cuide do cuidado.

Cuide de você.

Ame-se o suficiente para ser capaz de gostar do amor e só assim poder começar a tentar fazer o outro feliz.

(Arthur da Távola)