segunda-feira, 16 de julho de 2012

Cartas de Amor: lançamento de Dirceu W. Ramos


terça-feira, 10 de julho de 2012






"Cartas de amor são escritas não para dar notícias...

Não para contar nada...
Mas para que mãos separadas se toquem
Ao tocarem a mesma folha de papel..."


Rubem Alves (via Casa das Letras)

terça-feira, 3 de julho de 2012

Os Poderes Infernais




O meu amor faísca na medula
pois que na superfície ele anoitece.
Abre na escuridão sua quermesse.
É todo fome, e eis que repele a gula.
Sua escama de fel nunca se anula
e seu rangido nada tem de prece.
Uma aranha invisível é que o tece.
O meu amor, paralisado, pula.
Pulula, ulula. Salve, lobo triste!
Quando eu secar, ele estará vivendo,
já não vive de mim, nele é que existe
o que sou, o que sobro, esmigalhado.
O meu amor é tudo que, morrendo,
não morre todo, e fica no ar, parado.



(Carlos Drummond de Andrade)

domingo, 1 de julho de 2012

Amor - pois que é palavra essencial








Amor - pois que é palavra essencial 
comece esta canção e toda a envolva.
Amor guie o meu verso, e enquanto o guia,
reúna alma e desejo, membro e vulva. 
Quem ousará dizer que ele é só alma?
Quem não sente no corpo a alma expandir-se
até desabrochar em puro grito
de orgasmo, num instante de infinito? 
O corpo noutro corpo entrelaçado, 
fundido, dissolvido, volta à origem
dos seres, que Platão viu completados:
é um, perfeito em dois; são dois em um. 
Integração na cama ou já no cosmo?
Onde termina o quarto e chega aos astros?
Que força em nossos flancos nos transporta
a essa extrema região, etérea, eterna? 
Ao delicioso toque do clitóris,
já tudo se transforma, num relâmpago.
Em pequenino ponto desse corpo,
a fonte, o fogo, o mel se concentraram. 
Vai a penetração rompendo nuvens
e devassando sóis tão fulgurantes
que nunca a vista humana os suportara,
mas, varado de luz, o coito segue. 
E prossegue e se espraia de tal sorte
que, além de nós, além da própria vida,
como ativa abstração que se faz carne,
a idéia de gozar está gozando. 
E num sofrer de gozo entre palavras,
menos que isto, sons, arquejos, ais,
um só espasmo em nós atinge o clímax:
é quando o amor morre de amor, divino. 
Quantas vezes morremos um no outro, 
nu úmido subterrâneoda vagina,
nessa morte mais suave do que o sono:
a pausa dos sentidos, satisfeita. 
Então a paz se instaura. A paz dos deuses,
estendidos na cama, qual estátuas
vestidas de suor, agradecendo
o que a um deus acrescenta o amor terrestre.







(Carlos Drummond de Andrade)