quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Não Me Deixes!

 

Debruçada nas águas dum regato

A flor dizia em vão

À corrente, onde bela se mirava:

“Ai, não me deixes, não!”

“Comigo fica ou leva-me contigo

Dos mares à amplidão;

Límpido ou turvo, te amarei

constante;

Mas não me deixes, não!”

E a corrente passava, novas águas

Após as outras vão;

E a flor sempre a dizer curva na

fonte:

“Ai, não me deixes, não!”

E das águas que fogem incessantes

À eterna sucessão

Dizia sempre a flor, e sempre

embalde:

“Ai, não me deixes não!”

Por fim desfalecida e a cor

murchada,

Que a lamber o chão,

Buscava inda a corrente por dizer-lhe

Que não a  deixasse, não.

A corrente impiedosa a flor enleia,

Leva-a do seu torrão;

A afundar-se dizia a pobrezinha:

“Não me deixaste, não!”

 

(Gonçalves Dias)

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